A damurida é o símbolo da culinária Macuxi. O prato é um ensopado de peixe – que também pode ser feito com carne de caça ou galinha – bastante condimentado. Geralmente, o peixe é moqueado antes de ir para a panela. Mas o segredo está no caldo, que contém um molho de tucupi bem apurado e bastante pimenta. Portanto, a damurida é “quente”. É comer e suar!
Há muito tempo, quando nossos avôs caminhavam livremente por longo período pelos seus territórios ancestrais – quando não havia ainda contato com os karaiwayamî (colonizadores) -, pelos seus conhecimentos tradicionais, inventaram um jeito de conservar suas comidas, a carne de caça, pesca e outros insetos comestíveis, como as lagartas de maniva, moxiwas, formigas manivaras, gafanhotos e tanajuras. Isso acontecia porque não havia sal para mantê-las conservadas.
Foi assim que nasceu o moquém, uma técnica de assar de forma lenta, com paciência e perfeição, na brasa, e pegando muita fumaça para dar tudo certo, ou seja, para não deixar queimar. Só depois de tudo moqueado ou desidratado que eram guardadas em cestos feitos de cipó, ou embrulhadas em folhas de bananeiras ou outras folhas largas como a de jenipapo ou kurawa. Serviam muitas vezes para viagens longas. A invenção da Damurida (tu’ma) surgiu a partir da necessidade de comer o beiju ou a farinha molhada, que conhecemos como Pirão.
A pimenta sempre acompanhou a culinária tradicional, por isso não poderia ser diferente com a damurida. Tinha que ser ardosa, porque acredita-se até hoje que, comer com pimenta servia para espantar o mau-olhado, assim como se acredita que servia para espantar espíritos da natureza que poderiam estar fazendo algum mal para os parentes de uma região, e para os que viajavam também. O uso da pimenta como alimento era indispensável. Usava-se também como remédio, e pelo grande pajé da aldeia para descobrir a morada dos espíritos maus.
Comer pimenta é um dos hábitos milenares adquiridos pelos indígenas. À damurida, acrescentavam diversos tipos de pimentas, como a do curupira, murupi, malagueta, olho de peixe, canaimé, etc… Depois, folhas da pimenta, tucupi, água, sal e, por último, o moqueado, carne fresca ou insetos. O prato era sempre acompanhado da farinha, do beiju e da bebida típica chamado de caxiri.